O jornalista, abolicionista e médico Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, foi quem proclamou a República no Rio Grande do Norte, depois de ter recebido telegrama de Aristides Lobo, que mais tarde seria ministro do Interior, autorizando-o a assumir o governo após a proclamação da República no Estado no dia 17 de novembro de 1889, e que foi feito solenemente num clima festivo. Em seguida era aclamado governador do Estado, no palácio do governo, na Ribeira.
Pedro Velho finalmente viu coroada de êxito a sua luta em prol da proclamação da República, à frente de um grupo de idealistas que sonhava em derrubar a Monarquia para implantar a nova ordem vigente. Para divulgar as idéias republicanas, fundou o jornal “A República” em 1/07/1889, mantendo acesa a chama do idealismo. Esse jornal era impresso na gráfica de João Carlos de Vasconcelos. As máquinas, compradas em Paris pelo engenheiro Ferro Cardoso, eram de dimensões reduzidas para a publicação do periódico.
Fundação
O Partido Republicano foi fundado por Pedro Velho em 27 de janeiro de 1889. O local foi a residência do partidário João Avelino, onde funcionou posteriormente o “Grande Hotel”, que mais tarde se transformou no “Fórum da Justiça”, na Ribeira. Pedro Velho inscreveu no partido quase todos os familiares, destacando-se os irmãos Augusto Severo, Alberto, Fabrício, Joaquim e Adelino Maranhão.
Foi o potiguar José Leão que lhe comunicou a proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Aristides Lobo autorizou:
“Dr. Pedro Velho, assuma o governo e proclame a República”. O que foi feito por aclamação.
Governava a província, na época, o tenente-coronel Antônio Basílio Ribeiro Dantas, que mandou um emissário convidar o republicano para assumir o posto, mas Pedro Velho teve receio de apossar-se do cargo e consultou lideranças conservadoras e alguns liberais para coonestar seu ato solene em palácio, para desgosto de alguns republicanos de primeira hora, que ficaram à margem da consulta.
Interino
Mas o governo de Pedro Velho durou poucos dias. Em 30 de novembro o governo provisório da República, por intermédio do ministro do Interior, Aristides Lobo, afastava-o do cargo e, para assumir o governo do Rio Grande do Norte, nomeava Adolfo Afonso da Silva Gordo.
Pedro Velho sentiu o golpe, mas não passou recibo e recebeu com festa o seu sucessor, dando a primeira prova de habilidade política e, mesmo fora do poder, continuou prestigiado no Estado, surgindo assim a primeira “raposa política” do Rio Grande do Norte. Além do charme pessoal, era um homem simpático e elegante. Pedro Velho consolidava, mesmo à margem do poder, sua liderança no Estado.
Nessa fase atribulada, o Estado teve sete governadores e uma junta governativa. Com seu prestígio, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão conseguiu, por intermédio do jurista Amaro Cavalcanti, que o paulista Joaquim Xavier da Silveira Júnior fosse nomeado governador e ele, vice-governador. Começaria agora sua arrancada rumo ao poder. Tendo assumido o cargo provisoriamente nesse período, publicou decreto beneficiando, em relação ao imposto de exportação, a firma de fiação e tecelagem do cunhado Juvino Barreto.
No dia 28 de fevereiro de 1892, Pedro Velho é eleito indiretamente pelo Congresso Estadual governador do Estado, cujo mandato se estendeu até 25 de março de 1896. No discurso de posse disse a frase que marcaria seu governo: “Promovam o progresso que garantirei a ordem”.
Organização
Apesar de ser médico, coube-lhe organizar e reorganizar juridicamente o Estado, dotando-o de uma estrutura administrativa compatível com os novos tempos, após a proclamação da República. Seu grande mérito como administrador foi implantar essa tarefa indispensável ao surgimento do novo Estado. A partir do seu governo, Pedro Velho, com astúcia e habilidade política, implantou no Rio Grande do Norte a chamada oligarquia “Albuquerque Maranhão”, que ficou no poder por mais de 20 anos.
Proclamada a República em 15 de novembro de 1889, Pedro Velho divulgou uma declaração ao povo do Rio Grande do Norte, afirmando em certo trecho: “Hoje, de um pólo a outro, do Atlântico ao Pacífico, há uma só crença: a soberania popular é a lei americana. A alma nacional, inundada de júbilo, destitui o Império e firma-se na capital brasileira um governo provisório composto do grande Quintino Bocaiúva, do invicto General Deodoro e do ilustre publicista Aristides Lobo. A República é a paz, a ordem, a tranquilidade interna, a harmonia internacional, a civilização e o progresso”.
Pedro Velho terminava de maneira entusiástica sua declaração ao povo do Rio Grande do Norte:
“Viva a República!
Viva a Pátria brasileira!
Viva o povo norte-rio-grandense!
Viva o governo provisório!”
O proclamador da República no Rio Grande do Norte foi também deputado federal e senador da República. Era o líder maior do que se convencionou chamar de oligarquia Albuquerque Maranhão”
Provisórios
Da proclamação da República à eleição de Pedro Velho, foram governadores provisórios** do Rio Grande do Norte, pela ordem cronológica: Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (17/11 a 06/12 de 1889); Adolfo Afonso da Silva Gordo (06/12 de 1889 a 08/02 de 1890); Jerônimo Américo Raposo da Câmara (08/02 a 10/03 de 1890).
E mais: Joaquim Xavier da Silveira Júnior (10/03 a 19/09 de 1890); novamente, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (19/09 a 08/11 de 1890), João Gomes Ribeiro (08/11 a 07/12 de 1890), Manoel Nascimento Castro e Silva (07/12 de 1890 a 02/03 de 1891); Francisco Amintas da Costa Barros (02/03 a 13/06 de 1891), José Inácio Fernandes Barros (13/06 a 06/08 de 1891); Francisco Gurgel de Oliveira (06/08 a 09/09 de 1891), Miguel Joaquim de Almeida Castro
(09/09 a 28/11 de 1891).
Em seguida, é eleita uma junta governativa provisória, composta pelo coronel Francisco de Lima e Silva e pelos senhores Joaquim Ferreira Chaves Filho e Manoel Nascimento Castro e Silva, a qual comandou o Rio Grande do Norte no período de 28/11 de 1891 a 22/ 02/1892, e novamente volta ao poder Jerônimo Américo Raposo da Câmara (22 a 28 de 02 de 1892). Pedro Velho de Albuquerque Maranhão é finalmente eleito governador para o quadriênio 28/02 de 1892 a 25/03 de 1896.
Nasceu em Natal, em 27/11/1856, e faleceu em Recife, em 09/12/1907.
- Vice-governador: coronel Silvino Bezerra de Araújo Galvão.
**Quase todos os ex-governadores provisórios foram homenageados com seus nomes em ruas, praças, avenidas e cidade do Rio Grande do Norte. Pedro Velho é nome de praça em Natal e de cidade na região Agreste. Nascimento Castro, Amintas Barros, Lima e Silva, Jerónimo Cámara e Miguel Castro são nomes de avenidas no bairro de Lagoa Nova. Xavier da Silveira e Gomes Ribeiro têm, também, seus nomes em Morro Branco. Ferreira Chaves, que mais tarde seria eleito governador do Rio Grande do Norte por duas vezes, é nome de rua na Ribeira.
Com informações e imagens, o livro Perfil da República no Rio Grande do Norte (1889-2003), de João Batista Machado.